O potencial das plataformas abertas de software para o desenvolvimento da indústria de TI já é notório, e foi também identificado pela Comunidade Europeia que, de 2008 a 2011, através de seu órgão de fomento à pesquisa, a European Comission, financiou o projeto de pesquisa Qualipso (http://www.qualipso.org). Esse projeto foi desenvolvido por uma rede de universidades e empresas europeias e também contou com um representante na China, a Universidade de Tecnologia do Sul da China, e um no Brasil, nosso grupo na Universidade de São Paulo. O projeto Qualipso teve como objetivo promover pesquisas científico-tecnológicas visando o amadurecimento do Software Livre e a promoção, a nível internacional, da adoção de plataformas e soluções robustas de software aberto pela indústria e pelos governos. A disseminação regional do conhecimento criado durante o projeto foi deixada a cargo dos Qualipso Competence Centres, que continuam em atividade após o término do projeto e que atuam localmente em sua região geográfica mas colaboram entre si através da “Rede Internacional Qualipso de Centros de Competência”. A definição e criação da rede Qualipso serviu também como inspiração para a criação de uma rede de centros de competência mais ampla, a FLOSSCC network (http://www.flosscc.org), que inclui também instituições sem vínculos com o projeto Qualipso.
O centro brasileiro foi fundado em dezembro/2008 e incorporado à rede qualipso em janeiro/2009. Trata-se do CCSL, Centro de Competência em Software Livre da USP, que conta com duas sedes: uma no IME/USP, sob a coordenação do Prof. Fabio Kon (ccsl.ime.usp.br), e outra no ICMC/USP, sob a coordenação do Prof. José Carlos Maldonado (ccsl.icmc.usp.br). Por sua experiência e posição na comunidade de software livre, o CCSL da USP não apenas participa, mas teve papel central na criação da FLOSSCC network, atuando em conjunto com a Open Source Initiative (OSI) para dar apoio à iniciativa.
A prática da ciência nos dias de hoje tornou-se uma atividade intrinsecamente multidisciplinar. Nesse cenário, a Ciência da Computação ganha cada vez mais espaço, sendo apontada como o terceiro pilar a sustentar a pesquisa científica, juntamente com a teoria e a experimentação. Assim, a Computação e, em particular, o desenvolvimento de software, é um componente indispensável para a implementação e o fortalecimento dos objetivos econômicos, tecnológicos e sociais de um país. Para que essa interação entre a Ciência da Computação e as demais áreas ocorra de forma efetiva, é necessário que o acesso a ela seja feito de forma livre, sem restrições, com qualidade e de modo que a própria comunidade que utiliza e desenvolve recursos computacionais seja também proprietária e gestora de tais recursos. O modelo do software livre se adequa extremamente bem a esse cenário: o incentivo ao uso e desenvolvimento de software livre facilita a reprodução de experimentos, minimiza a duplicação de trabalho e pode oferecer condições melhores de trabalho para grupos de pesquisa com pouca capacidade de desenvolvimento. Além disso, o acesso ao código-fonte se traduz no acesso ao conhecimento científico embutido no software, o que pode permitir sua transferência para a indústria de forma mais simples e eficiente. Um reflexo desses fatos pode ser observado pelo grande volume de software livre desenvolvido e em uso em instituições acadêmicas.
Em particular, a USP conta com vários projetos envolvendo software livre, concluídos e em andamento, especialmente nos departamentos de Ciência da Computação do IME e de Ciências da Computação e Matemática Computacional do ICMC. Essa realidade gerou o interesse pela criação do Centro de Competência em Software Livre da USP, com apoio da FINEP e a reitoria da universidade, mesmo antes da adesão ao projeto QualiPSo, com foco no apoio à pesquisa e desenvolvimento de software livre.